quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Pueblos de Córdoba, um amigo cantor e ermitão, de carona mais 700km até Mendoza, Valparaíso e a melhor noite de todas, vida em hostel no Chile, o que aprendi até agora

Depois que o inquilino do diabo se foi, minha vida se tornou mais tranquila e também mais organizada. O engraçado de ter uma rotina de trabalho em outro país, é que justamente você passa de turista a mais um cidadão trabalhador.


Todos os dias eu despertava, fazia os tiramisus, ajudava o Victor com as coisas do hostel e mais tarde saía para vender. Até o Parque Sarmiento são 4 km e nesse trajeto eu passava cumprimentando o boliviano que vendia verduras, o chinês do supermercado, a senhora argentina que me vendia o creme vegetal e me dizia “Suerte!” toda vez que passava. Também cumprimentava um argentino engraçado que me dizia “BONJOUR!” em voz alta, sempre rindo, porque antes pensava que eu era francês e mesmo depois que disse a ele que era brasileiro, a piada continuava muito boa e fazia do meu caminho ao trabalho sempre muito divertido.

Eu dividia o quarto com um argentino e na casa haviam dois irmãos argentinos de Jujuy, uma chilena e uma argentina. No hostel em dezembro havia pouca gente de fora mesmo, assim que muitas vezes parecíamos uma grande família. Em uma festa de aniversário de um amigo chamado Cláudio, fiz uma grande chocotorta e durante a noite fiz caipirinhas de limão, morango, kiwi, abacaxi e de misturas como morango+kiwi e limão+abacaxi, além de mojitos. A festa estava linda e havia drinks típicos do Chile como o Pisco, da Argentina como o Fernet, fora os drinks do Brasil. Não bebo, mas tomei um gole do Pisco e do Fernet e como opinião de quem não bebe só posso dizer que não achei nem ruim, nem bom, e sim que depois de anos sem beber que álcool é forte pra cacete e não sei como as pessoas conseguem tomar tanto disso! HAHAHAHAHAHA uma opinião um tanto quanto diferente para quem me conhece já tem bons anos né?

Chapei o melão dos gringo
Uma curiosidade a respeito da Argentina é que NÃO TEM PIZZA DOCE AQUI! Quando perguntei uma vez para uns amigos em uma pizzaria em La Plata “E aí galera, vamos pedir uma pizza de chocolate com morango agora?” todos cagaram de rir e ainda uma guria me disse “Ah é que no Brasil tem pizza doce??”, podem acreditar numa dessas? E depois que disse que era verdade, ainda fizeram cara de nojinho tentando imaginar! O drama da pizza doce só acabou quando mostrei fotos e eles salivaram! Que coisa louca, né? Justo num país onde a pizza é tão aclamada, não tem pizza doce tsc tsc tsc. Fica aí a dica de empreendimento!

Moramos perto, mas tudo é tão diferente que quando estamos na Argentina, parecemos ET's. Coisas como kioskos, locutorios, vestimentas, músicas, baladas... tudo muda! Para quem passa correndo em viagens de 10 ou 15 dias, não conseguem apreciar os detalhes, é coisa para se descobrir vivendo dentro da sociedade em outro país. Em geral as mulheres se vestem de uma maneira muito diferente das brasileiras. As argentinas usam menos maquiagem e menos acessórios. Isso achei massa! Mas está de moda por aqui um sapatão enorme com plataforma chamado “Sandalia franciscana” que não consigo achar bacana. Enfim, tirem suas próprias conclusões:

;/
Sou um daqueles caras bizarros que curtem pés de mulher, então esse aí acaba com todo o charme, é um bagulho MegaZord pro meu gosto.

Quando eu cheguei na Argentina, falava um portunhol feio e uma vez fui pedir uma colher a um amigo e obviamente, como qualquer pessoa que não manja nada de castellano, pedi assim:
- Hay una colher?

Aí descobri que a palavra colear significa, literalmente, FODER. Portanto, lição número 1 quando for a Argentina, não esqueça que colher é cucharra e assim você não passa vergonha.

Algo que muda bastante do Brasil são os preços dos sucos de caixa. Não sei porque diabos no Brasil pagamos valores como 5 reais por um suco de caixa (beleza, deve ser pela quantidade ridícula de impostos que pagamos). Aqui na Argentina cheguei a pagar 10 pesos por um suco de caixa FERA, o BC, meu favorito. Um como este no Brasil não sai por menos de 6 reais, tranquilo.


Quero muito descobrir o motivo pelo qual apesar de estamos muito próximos, não temos praticamente nenhuma influência dos hermanos no Brasil em questão musical. Na Argentina, Chile e Uruguai se escuta muita música brasileira. Desconfio que se escuta mais música brasileira que americana. E principalmente, se escuta MUITA música em espanhol. Não é difícil escutar nas ruas músicas americanas, mas o volume é consideravelmente menor se comparado ao Brasil.

No Brasil temos muita influência yanke e não temos dos hermanos, então o lance do idioma não tem nada a ver. Se alguém tiver resposta para esses mistérios, que por favor o comente! Nessa viagem conheci bandas muito boas como: Soda Stereo (ARG), No te vas a gustar (URU), El cuarteto de nos (URU), Chancho en pieda (CHI), Bersuit Vergarabat (ARG), Andre Calabares (ARG), Calle 13 (Porto Rico). Boas dicas aí para quem quiser conhecer algumas bandas bastante escutadas na América Latina. Aí seguem alguns vídeos para facilitar, com dicas de algumas músicas:






No hostel em Córdoba conheci um grande homem. Uma daquelas pessoas super inteligentes e genais que fazem a gente pensar. Carlos, um cara de quase dois metros de altura, cantor de tango e professor de filosofia. Muitas vezes me questionei, em relação a música, se meu timbre com registro grave poderia conquistar bons méritos um dia e foi o Carlos que me mostrou que adaptações com alterações de tom podem ficar belíssimas em tons graves. A maior parte do repertório do tango clássico é composto de músicas bem agudas e Carlos mostrou o brilho das notas baixas.

Quando falei do meu blog, ele me perguntou o motivo do “Ermitão” e confesso que fiquei meio sem jeito de responder, porque pode não parecer, mas é uma pergunta bem íntima e por mais óbvia que seja fazê-la a mim, autor do blog, nunca alguém o havia perguntado. Creio que a essa altura do campeonato devo aos meus leitores, também, uma pincelada do conceito do ermitão.

Se tem algo que muda nosso conjunto de importâncias e a maneira como gerimos nossa vida, é a nossa concepção de mundo. Como imaginamos que a coisa funciona e a verdade a qual aceitamos para nós. Algumas pessoas pensam que é exagero dizer que não beber, não comer carne e não ter uma religião ou alguma crença com um conjunto de valores pré-definidos ou escritos, mas isso te coloca em uma posição desconfortável quando estamos vivemos em tempos do produto criado por anos de ser humano e de sociedade. Considero que esses que vivem nesse espaço desconfortável da sociedade (não exatamente os que não bebem e não comer carne), tendo em vista o comportamento louco das pessoas em relação ao conjunto em geral, nós, que nos movemos e somos os que trabalham, fazem tudo certo, os que constroem uma família e repetimos tudo o que somos de forma livre, controlados pelo sistema, são ermitões, mas ermitões contemporâneos. O motivo do contemporâneo é porque estão isolados em pensamentos a respeito do mundo em suas cabeças, mas estão dentro da sociedade, mantendo esse paradoxo de estar presente e ao mesmo tempo não estar. O lance do ermitão é porque essas pessoas se sentem isoladas nessa chuva de ideais compostos pela sociedade. Infelizmente são ermitões porque, em geral, não fazem parte do grosso da sociedade e então algumas vezes permanecem sozinhos em seus pensamentos.

Não considero pessoas mais evoluídas e tão poucos melhores que os demais, são apenas pessoas que se questionam. Dizer que alguém é mais evoluído é egoísta, pesado e até pré-potente. Portanto, Carlos, como um bom filósofo, era ermitão também e por aborto do destino, ele usava o mesmo conceito de ermitão para definir a metáfora. Já comentei alguma vez, em algum post, que nesta viagem estou encontrando algumas pessoas que são como guias espirituais a mim. Poucas pessoas que apareceram e que no momento em que interagiam comigo, de certa forma colocaram a pulga atrás da minha orelha e que alteraram algum rumo na minha vida. O hippie de Buenos Aires, esse portenho cantor de tango, a boliviana e uma senhora francesa que encontrei no Chile fazem parte deste time, de maneiras complementares. Fale com quem te ajude a conhecer a você mesmo sem te julgar, com essas pessoas sim se aprende muito.

Carlos era tão brother que gravei todo o show dele numa casa de tango. Ele estava mudando de vida, saindo do agito da cidade portenha para viver nas montanhas de Córdoba, com vida mais tranquila e com um toque mais natureba. Ele fazia boa grana com o tango nesse lugar e ainda ia ao parque vestido de palhaço vender aqueles bichinhos que fazem com bexiga, sabem? Isso enquanto sua mulher vendia cookies no parque. Demais! Admiro a independência dos dois, são pessoas lindas e muito honestas.


Como a grana estava entrando legal, me dei ao luxo de fazer algumas viagens pelos pueblos de Córdoba e um dos lugares que mais curti foi Capilla del Monte. Como alguns amigos sabem, sou muitíssimo interessado pelo lance dos extraterrestres. Mas muitíssimo mesmo! Do tipo que sabe todos os principais casos fortes do Brasil e tudo mais. Na minha sucinta pesquisa de destinos para conhecer, descobri Capilla del Monte. É chamada “a capital do ET na Argentina”. São inúmeras as histórias de avistamentos, então obviamente eu teria que dar uma passadinha por lá.

O valor da passagem para 120km é (ou era – sabe lá com essa inflação louca) 50 pesos, ou R$ 15. Ao chegar em Capilla, fomos (eu, Cláudio(ARG) e Gabi(CHI)) recepcionados por três lindos cachorros de rua enquanto estávamos nos abrigando por causa da chuva. Alimentamos eles, fizemos carinho e pronto, havíamos feito grandes companheiros para toda a viagem!


O dia estava meio chuvoso e para passeio nas montanhas fica um pouco xoxo o programa, mas insistimos um pouco e mesmo com o tempo fechado, a chuva finalmente parou. Seguimos buscar alguns pontos interessantes da cidade que é bem pequena e não sei explicar exatamente, mas a energia do lugar é muito diferente. É uma energia boa que está aí, no ar. Muito diferente... bom não sei.

É engraçado que a cidade toda tem essa temática ET! Em todos os lugares vendem aliens em miniatura, camisas de aliens, etc. O lugar é tão famoso pela energia que até algumas casas da região são construídas em formato de bola para que a energia faça não sei que-não sei que lá dentro da casa e algumas piras com energia que, como vocês puderam notar, não sei direito, só sei que chamávamos de “casa do goku” porque de fato eram muito parecidas com as do Dragon Ball.


Saí com planos de acampar lá, mas só com o saco de dormir, mas segundo o dono do hostel, se podia dormir numa paróquia lá que a galera deixava susse. Mas infelizmente ao longo do dia não tive a moral de embarcar na aventura porque passaria a noite sozinho lá e voltaria no dia seguinte de carona. Fui cagão e não o fiz, agora resta o lamento por aqui hahahahahahaha


No caminho encontramos uns hippies, entre eles um brasileiro de São Paulo que mora lá já tem 8 anos. Como muitos outros brasileiros que conheci aqui que moram já tem tanto tempo na Argentina e tem tão pouco contato com o nosso país que já se confunde todo na hora de hablar português, uma comédia, só vendo! Eles nos indicaram que para chegar mais rápido ao Cerro do Uritorco poderíamos invadir uma propriedade privada e cortar caminho cruzando ela. Perguntei se não dava nada e aí ele disse que era só correr quando visse a polícia! Legal! Não pensei duas vezes! Na Argentina, numa cidade de ET, invadir uma propriedade privada para cruzar caminho só acentuava o ar de aventura e eu me sentia como no filme dos Goonies!

Seguimos estrada adentro e chegamos justo ao ponto inicial do delito: uma placa que marcava “PROPIEDAD PRIVADA”. Entramos ali e passamos por lugares com uma bela vista e felizmente a polícia não deu as caras. Na verdade não vi uma polícia naquela cidade, por mais incrível que pareça, mas também não creio que ali necessite... tudo parece tão calmo.


Chegamos na entrada do Cerro Uritorco mas fomos barrados por um fator econômico fortíssimo:


Não pago $ 130 pra subir um morro nem a pau, Juvenal. Na verdade até pagaria, mas acabamos nos perdendo nas direções e pegamos esse ônibus que comeu uma boa grana, porque na verdade o esquema seria pegar um trem até certa parte e de lá seguir de carona, mas acabou que nos folgamos, perdemos o trem e bom, aí não restou grana. Planejamento é importe, não esqueçam!

Nos contentamos em subir uma pequena montanha próxima ao Uritorco que também era muito linda e tinha uma visão de tirar o fôlego. Saca só:


Os cachorros nos seguiram até em cima das montanhas! Super companheiros! Quando estávamos em cima do morro, senti pela primeira vez uma sensação de liberdade absurda. Em cima das montanhas, longe de cidades, longe do meu país, da minha suposta segurança. Uma coisa eu aprendi nessa aventura: somos muito mais poderosos que pensamos. Eu não tinha ideia do meu poder como ser humano independente! Uau! Estava fazendo uma viagem sem depender de ninguém! Fazendo grana pelo caminho, me dando ao luxo de viajar legal! Viajar de verdade! Conhecer o mundo de uma forma muito íntima com o auto-conhecimento.

Muito se fala a respeito do quanto uma viagem como essa muda nossa visão de mundo, nos ensina muito. Jamais vou dizer que sou maduro e que atingi um nível de maturidade bom. Somos tão complexos como pessoas e existem tantas questões éticas, sociais e culturais que deixa muito em questão a pergunta: o que é a maturidade pra você? Acredito ser egoísmo considerar alguém maduro porque corresponde aos seus pontos de vista. Não sei se consegui ser muito claro, mas o fato é que dizer que sabe muito ou que é maduro é conversa mole, não sabemos nada da vida e do universo e tentamos criar ilusões em nossas cabeças nos convencendo que sabemos algo. Pouco profundo, mas bem objetivo. Portanto acredito que melhor que achar que conhece todos e tudo é conhecer a si mesmo, que acredito já sermos bem complexos.

Quando você se move por países, cidades, centenas e centenas de quilômetros, fazendo seu dinheiro, não tendo que suportar ninguém te dando ordens e confiante de que pode ir onde quer, com conforto, mas com muita responsabilidade, planejamento e trabalho, você sente a liberdade que tem para mudar o seu próprio rumo. É questão de consciência. Quem é você? O que você você quer fazer?

Em um momento em cima da montanha todos entraram em seus mundos. A chilena começou a fazer yoga, o argentino se sentou para observar a paisagem e pensar na vida e eu fiz o que mais gosto de fazer: música. Comecei a tocar Guaranteed do Eddie Vedder porque essa música em especial tem bastante a ver com o momento em que estou vivendo, então digamos que posso pecar em alguns pontos na execução, mas o que sinto na hora que em que estou fazendo esse som é incrível. Foram poucos minutos de transe em grupo, mas toquei algumas músicas olhando um paraíso no meio das montanhas e aí, somente aí, comecei a perceber o quanto somos poderosos.

Garantido
De joelhos não é maneira de ser livre
Levantando um copo vazio, pergunto silenciosamente
Todos meus destinos aceitarão aquele que sou eu
Então eu posso respirar ...

Círculos que crescem e engolem pessoas completamente
Metade de suas vidas, dizem boa noite para esposas que nunca conhecerão
Uma mente cheia de perguntas, e um professor em minha alma
E por aí vai...

Não se aproxime ou terei que partir
Tal como a gravidade, são esses lugares que me puxam
Se alguma vez houve alguém para me manter em casa
Seria você...

Todos que encontro, em gaiolas que compraram
Eles pensam sobre mim e meus pensamentos, mas eu nunca sou o que eles pensam
Eu tenho a minha indignação, mas sou puro em todos os meus pensamentos.
Eu estou vivo...

Vento em meus cabelos, eu sinto parte de todos os lugares
Sob meu ser, está uma estrada que desapareceu
Tarde da noite eu ouço as árvores, elas estão cantando com os mortos
No céu..

Deixe comigo que eu encontro um jeito de ser
Considere-me um satélite, sempre orbitando
Eu conhecia todas as regras, mas as regras não me conheciam
Com certeza.

O conceito da sociedade clichê funciona como um buraco negro que tenta engolir a todos. Vivemos, trabalhamos, pagamos impostos e nos sentimos livres porque temos 30 dias de férias por mês. Criamos em nossas cabeças que para viajar e vivermos, temos que ser ricos, milionários. Fazemos parte tão afundo nesse sistema que dizer que somos livres hoje é paradoxal. Não saí do sistema, não estou vivendo sem o capitalismo porque seria acreditar em uma utopia, mas aprendi a me mover por ele de uma maneira que não faça me sentir um refém por completo. Que tenho vida e quem toma minhas decisões sou eu.

Outra coisa que aprendi também foi: não esperar nada de ninguém. Sem esperar nada das pessoas se vive mais tranquilo e menos decepcionado. Somos complexos e esperar algo de alguém, extremamente compatível com os nossos pensamentos é difícil. Aprendi a aceitar mais as pessoas como são e não julgá-las pensando que meu conceito de felicidade é o mesmo para todos. Mudar alguém é algo pesado a se fazer. A mudança só é real quando parte da gente, com muito auto-questionamento. Assim convivi em harmonia por onde passei. Mesmo com pessoas que estão no Brasil. Não espero que meu pai vá me mandar um e-mail de 30 linhas porque eu mando um pra ele, mesmo sendo a primeira vez que ficamos mais de 4 meses separados por centenas de quilômetros. Antes eu pensaria que ele é egoísta e não liga pra mim. Hoje tenho a certeza de que ele me ama e que a forma dele expressar carinho só não é compatível com a forma que eu gostaria de receber. Ele teve uma vida difícil, o tempo fez ele ficar frio e não cabe a mim esperar que ele seja mais expressivo e presente, cabe a mim entender ele e evoluir a ponto de ser independente, livre de rancor por esperar dele uma atitude que supostamente seria o “certo” a fazer. Isso me fez entender a sociedade com outros olhos, assim passei a entendê-la melhor e cobrar menos de todos. Para quem quer fazer uma viagem como a minha, fica aí um dos grandes segredos: capacidade de adaptação.

Quando me dei conta de que muitas barreiras são “meramente” psicológicas, resolvi continuar a viagem com a aventura que já havia me proposto fazer. Eu precisava estar no Chile no dia 20 para iniciar no meu trabalho em outro hostel e decidi fazer esta parte da viagem de carona também. Mais 700km. Desta vez saí preparado. Comprei frutas, dois litros de água e saí sorrindo pelas estradas com o dedão esticado novamente.

Da última vez tardei três dias para percorrer esta distância, lembram? Mesmo tendo curtido festas, dormido na casa de gente bacana e acampado dois dias nas montanhas, foram dias de viagem. Não sei se foi minha confiança, mas nesse dia tudo saiu perfeito. Não esperei mais de 20 minutos para me levarem.

Paguei 20 pesos para um micro ônibus me levar numa cidadezinha próxima, Carlos Paz. Lá fui até a saída da cidade com algumas informações e lá um homem de um ônibus disse que por 7 pesos me deixava na próxima cidadezinha onde tinha mais possibilidades para pegar carona. Lá esbanjei sorrisos e em poucos minutos parou Victor, um argentino muito querido! Me levou mais de 200km, parando em lugares bacanas da estrada para tirar fotos e também entrando em cidadezinhas lindas pelo caminho para que eu pudesse conhecer. Por causa dele conheci um pouco do que é Mina Clavero, uma das cidadezinhas mais charmosas de Córdoba, pequena e muito particular.


Em Villa Dolores paramos em um posto e de aí Victor seguiu sua viagem. Lá com informações dos cidadãos eu fui seguindo até a saída da cidade e lá parou um casal de senhores muito simpáticos, de mais de 70 anos cada um. Detalhe: mais de 90% das pessoas que me levaram tem alguma relação com viajantes. Ou são amigos de mochileiros, ou tem irmãos mochileiros, ou já foram mochileiros... quase sempre eles tem alguma relação com algum louco que sai com mochila por aí no meio da estrada.

Eles me deixaram em um lugar literalmente no meio do fucking nada. A única coisa que tinha era uma estação de polícia toda pichada com dois canas lá, um deles dormindo e o outro comendo sanduíches enquanto via o jogo do Boca Juniors. Perguntei ao que estava acordado se havia problema fazer dedinho por ali e ele disse que era tranquilo. Ali fiquei sentado em uma cadeira velha, só observando a pequena estrada onde os carros passavam com pouca frequência. O terceiro carro que passou, parou. Um cara da minha idade, com o carro CHEIO de coisas, estava se mudando de Córdoba capital para San Juan. O louco não tinha espaço nem para ele direito, mas não importa, era tão “buena onda” que espremeu suas coisas para colocar minha mochila, entulhamos um monte de coisas em cima das nossas pernas e depois de acender um cigarrinho de artista, seguimos juntos por mais duzentos quilômetros, sendo 130 deles só de reta, no deserto.

Sol de 40 graus, vegetação desértica e uma reta que nos fazia sentir como se estivéssemos parados no tempo. Nada muda e o sol forte parece se intensificar cada vez mais. Tão forte que nos queimou de uma forma bizarra, o braço esquerdo dele e o direito meu, super bacana! Essa parte da viagem, mesmo com carona, foi bem pesada porque o sol e o calor são tão intensos que te fazem passar mal. Sorte que eu tinha os dois litros de água quase intactos! Há!

Ele me deixou em um lugar bem complicado. Mesmo porque em mais 150km havia o mesmo e ele não conseguiria me deixar em algum lugar melhor que esse.

Bom, eu parei numa rotatória no meio do deserto. Exatamente como me descreveu Victor, o dono do hostel onde eu trabalhei em Córdoba. Um lugar com sol forte, areia por todos os lados, árvores tão baixas que não fazem sombra e um ar seco. Automaticamente pensei “Tenho frutas e água, posso sobreviver dias aqui se precisar” hahahahahahaha.

Into the fucking wild
Minha sorte é que 20 minutos depois, quando eu já estava zonzo e sem muitas esperanças de sobreviver por mais 20, parou um caminhão. A cultura da carona muda tanto de um país para outros que no Brasil eu só viajei com caminheiro, enquanto aqui na Argentina eu só havia viajado com carros. Um senhor muito amável estava super preocupado por eu estar no deserto e com muita boa vontade me levou na saída da cidade mais próxima, San Juan. Esse foi um ponto da viagem em que me encontrava muito cansado e com medo de cair em mais um deserto.

Assim verifiquei que a passagem para Mendoza era $ 150 e não pensei duas vezes, paguei com gosto. Assim segui para Mendoza.

Infelizmente, como não fiquei mais que um dia em Mendoza, não aproveitei nada. Estava literalmente de passagem. Escutei muito sobre a província por muitos amigos, mas infelizmente desta vez não pude conhecer. Como estava com medo de ir de carona pro Chile pelo motivo de que é mais complicado alguém cruzar um país com um desconhecido no carro, especialmente pela parte da fronteira, paguei a passagem até lá que estava barata, $ 400 pesos.

O caminho de ônibus obrigatoriamente cruza as cordilheiras e é, sem dúvidas, o trajeto de viagem mais lindo por onde já passei. É incrível a magnitude da beleza da natureza. Na fronteira nevou um pouco e foi emocionante e de certa forma doloroso porque eu estava de calção e camiseta D: Troquei de roupa porque um senhor me disse que nessa época do ano não fazia tanto frio! Tudo bem, ele também não esperava e se cagou de frio junto comigo, que dizia tremendo: “caraca bicho, a neve é bacana, mas eu queria ter conhecido ela de uma maneira mais confortável, te confesso hahahahahahha”. Estava cagado de frio, mas de certa forma muito feliz. Cruzando mais uma fronteira, um novo país, uma nova cultura e novas aventuras.


No ônibus fiz um monte de amizades com senhores de todas idades acima de 70 anos. Muitos chilenos super amáveis que já de cara anunciaram que eu seria bem vindo em seu país. No terminal de ônibus de Valparaíso uma senhora pagou táxi para que eu pudesse chegar no hostel onde trabalharia. Chegando cumprimentei os donos do hostel e já disse preparado que tudo o que precisassem poderiam contar comigo e tive como resposta caras fechadas e olhares curiosos, nada mais. Saquei dinheiro pela primeira vez na viagem, fiquei puto com o quanto descontam pela transação e aí fui comprar verduras e macarrão, meu “pão de cada dia”.

Nos verdureiros as pessoas já mudavam muito do pessoal da Argentina. Confesso que na Argentina eu me sentia como privilegiado por ser brasileiro, porque em geral, eles amam o Brasil e o fato de você ser brasileiro já pode ser sinal de sorrisos e piadas. No Chile me olhavam feio, riam de como eu falava de uma forma pau no cu e ainda ficavam me olhando no mercado. Foda né? Foi um choque cultural sem igual. Estava acostumado demais com os tratamentos calorosos dos uruguaios e argentinos e aí levei um balde de água do Chile.

O Chile é caro pra muitas coisas, mas se tem algo que é muito barato são as verduras e frutas em geral, aí outra vantagem em ser vegetariano em uma viagem como essa (economia master sempre nos rangos com altas verduras gostosas!). Veja algumas fotos dos preços. Pense que 1 real vale mais ou menos 230 pesos chilenos. Clique para ampliar.






Como sou muito expressivo e comunicativo, fiquei um pouco chateado porque muitas das pessoas que conheci na Argentina foram nos lugares onde eu interagia para comprar, perguntar, etc. Ali eu era tratado como um incômodo, uma cebola na salada de frutas. Logo de cara pensei em ficar pouco tempo porque os preços eram altos, a galera, em teoria, não me recebia bem e estava me sentindo deslocado, digamos assim.

Sou um cara muito insistente e não me dei por vencido, me convenci de que julgar uma cultura toda por poucos dias era um grave erro e mais uma vez a vida ensinou: seja paciente. Pouco mais de uma semana depois da minha chegada, já me sentia mais acolhido pelos donos do hostel, que faziam piadas a todo tempo comigo e diziam que eu era a “alegria da casa”. Mesmo nos verdureiros a coisa mudou um pouco e descobri que o chileno é mais tímido, mas quando se consegue a confiança dele, é sinal de que vai ter uma boa amizade.

Viajei para Viña del Mar e achei uma cidade linda e organizada, mas Valparaíso sinceramente roubou meu coração. Viña é muito tipo Miami, Punta del Este. Valparaíso é uma cidade suja, artística por todos os lados, cheia de gente estilosa e cores por todas as partes, com a melhor noite de todas, ficando em pé de igualdade com Montevideo. As três melhores cidades que conheci até agora são: Montevideo, Valparaíso e Córdoba. Buenos Aires também é muito foda, mas gosto mais de cidades pequenas e charmosas.


Como eu não bebo, não sabia até pouco tempo atrás que na Argentina e no Chile não se pode beber nas ruas! Não estou falando em comprar vodka com amigos e beber na praça, estou falando de não poder comprar uma lata de cerveja depois do trabalho e poder tomar indo pro ponto de ônibus. Por isso que um dos rituais que eles mais amam, chilenos e argentinos, comprar cervejas e beber nas praias do Brasil. Não sabia que eram tão rígidos com isso. Em Valparaíso esse tipo de repressão gerava algumas situações interessantes. Fora do bar não se podia nem sair com o copo de cerveja, mas dentro... dentro, meu amigo... lá rolava de tudo.

Mesmo não fazendo mais o tipo super doidão como antes era, me atrai o ambiente onde pessoas estão fazendo o que querem, sem serem controlados por ninguém. Extremista, bizarro e de certa forma autodestrutiva, vejo uma beleza nesse contexto com essa pinta punk, vejo liberdade, vejo dependência, vejo pessoas desfrutando do que acreditam ser “liberdade”. Isso é sociedade, isso é doença social, mas isso também é o ser humano fazendo o que quer fazer, da maneira que melhor aproveita, isso é prazer. Não gostamos que nos controlem porque pensamos que isso nos destroi, mas ao mesmo tempo, quando pensamos que estamos livres, nos destruímos.

O tempo passou e o Chile me amaciou, conheci ele e ele me conheceu e agora somos bons amigos. Tenho minhas ressalvas com respeito a pagar em tudo que tenha que ver com cultura, ter que pagar pelo ensino super público PARA ELITIZAR O PAÍS e algumas coisas mais, mas consegui aproveitar legal. Não tinha espaço para fazer os tiramisus no hostel e acabei por decidir conhecer um par de cidades no Chile e aí voltar pra Argentina, pra Córdoba, pra fazer grana pra seguir minha viagem para Bolívia.

Um dos meus programas favoritos em Valparaíso era sair com meu violão, comprar umas frutas e ir até um mole, um pedaço de cimento que me levava adentro do Pacífico e criava uma atmosfera de tranquilidade que me deixava muito a vontade para tocar, cantar e deixar a música me levar por horas vendo o mar gelado repleto de lobos marinhos que disputavam de formas não tão amigáveis, uma pequena ilha de pedras.


Valpo é uma cidade cheia de cachorros de rua. Nunca em minha vida havia conhecido uma cidade com esse número de dogs. Antes eu ficava com o coração apertado e tinha muita dó, mas o tempo passou e percebi que a grande maioria dos dogs estavam gordos, felizes e bem alimentados pelos cidadãos. Um dog inclusive me seguiu em um tour com duas canadenses todo o tempo e descobri que perto do hostel havia um homem que havia adotado ele e sempre o alimentava.

Pra se ter uma ideia de como minha primeira semana foi uma merda, pessoas do hostel foram roubadas, vi um incêndio começar num morro e cinco minutos depois teve um acidente de carro envolvendo uma senhora justo em frente ao hostel, além de estar chocado com o preço do transporte e das hospedagens (mesmo que eu não tivesse que pagar).

Incêndio no morro
Acidente feio envolvendo dois carros e um pedrestre
Enviei mais de 20 solicitações de couch surfing para sair com alguém, homem ou mulher, alguém que quisesse sair comigo para me mostrar a cidade. Uma pessoa me respondeu e de uma maneira ultra simpática, confira:

Bom, respondi assim:




Mas queria mandar só uma foto, assim:


O bom é que as mulheres que trabalhavam comigo no hostel eram super gente fina e graças a Alexandra eu conheci a noite de Valpo, que como comentei, é genial. Vale a pena!

Estava muito preocupado com os dogs de rua porque em Valpo rola a maior queima de verba pública fogos do Chile. Sim, sou daqueles que pensa que enquanto tiver gente que não tem o que comer, não se queima grana do povo. O pobre no Chile paga imposto, não tem grana pra pagar a faculdade pública e ainda tem que ver sua grana explodindo no céu... e curtir isso. São questões que são exageradas para quem só a ver a parte do “Mas pô, é lindo! A galera tem que curtir”, mas quando se trata de um mínimo pensamento social, já se tem mais sensibilidade a respeito do tema.


Em Valparaíso conheci muita gente interessante de muitos lugares do mundo. Conheci uma francesa aquariana de quase 70 anos que viaja todos os anos por três meses sozinha, sem o marido. Por quê? Porque ela curte viajar sozinha e se ele não gostar ele que procure outra – palavras da própria. As vezes conversávamos 5 horas seguidas no living. Sobre o que? Sobre vida, sociedade, culturas, jeitos e maneiras, conceitos e paradigmas. Incrível. Nunca senti uma conexão tão boa na conversa quanto com ela. De alguma maneira meu psicológico entendeu que ela seria uma boa mãe para mim e quando percebi ela já estava me chamando de filho. Preencheu algum vazio que a muito tempo eu havia escondido em algum lugar bem fundo na minha cabeça. Ao contrário do que pensei, não me desconstruiu ver esse espelho, pelo contrário, vivi o momento da melhor maneira. É genial encontrar alguém que vive do outro lado do globo que te faz se sentir tão a vontade que parece alguém da sua família.


Na semana do natal conheci três portugueses que haviam recém saído do Brasil, depois de ter estudado um semestre da faculdade em Florianópolis. Como a situação em Portugal tá um lixo, dois deles pensam em trabalhar no Brasil e o outro, que estuda direito... bom, estuda direito né, aí complica mais na hora de trampar em outro país.

Eles eram muito bacanas, mas de noite eram peculiares, de maneira sincronizadamente bizarra.


Como gosto muito de escrever de madrugada, era o único do quarto acordado, usando o PC enquanto os portugas dormiam. Um deles começou a falar algo incompreensivo e até aí tudo bem. Eis que o outro portuga começou a falar coisas não entendíveis em algum idioma que era longe de ser da língua do Manuel da padaria. Como se não fosse bizarro o suficiente ter dois portugas hablando – coisas – a portuga se junta a eles e por alguns minutos eu me senti em um manicômio internacional.

Conheci uma senhora russa muito amável. Ela teve sérios problemas no Chile. As pessoas não tentavam entender ela, a roubaram e a coitada passou maus bocados. Estava viajando sozinha, mas sem falar o idioma que era, de longe, muito diferente do que é o russo. Se eu estou aprendendo um monte nessa viagem, imagino o quanto ela deve ter aprendido. No hostel onde estávamos todos a entendiam não importando o quão difícil fosse comunicar algo. Uma mãe com muito orgulho do filho que quis viajar sozinha para a América do Sul pela primeira vez.

Também conheci Meredith, uma americana de mais de 70 anos que viajava pelo mundo todos os anos também, mas que neste ano estava sozinha porque seu velhinho estava um pouco mal das pernas. “Ele é forte e disse pra eu vir, então eu vim”, disse ela, sorrindo com sua bengala e falando um espanhol com sotaque americano.

Meredith tinha algumas particularidades.

Em uma noite qualquer abri a porta do nosso quarto compartilhado com mais 5 pessoas e aí estava ela, só de calcinha, sutiã e chinelas vendo as estrelas. Talvez poético, mas nada muito sexy. Meredith era muito brother, mas também um pouco fora da casinha. Ela não se importava em sair de calcinha e sutiã pela casa em qualquer hora da noite. Uma noite levei um puta susto ao encontrá-la no meio da madrugada perdida procurando a cozinha para encher sua garrafinha d'água. Escurão, cê vê uma véinha desnuda com uma garrafa na mão e cara de poucos amigos. Não consegui acostumar as vistas, mas confesso que ria sozinho ao lembrar dessa senhorinha.

Uma outra mulher muito forte que conheci foi uma santiaguina que havia recém terminado seu relacionamento de 15 anos, iniciados aos 21 e que estava passando por uma reconstrução em sua vida. Tendo que construir um novo mundo e esquecer que aquele em que estava desabou. Mesmo nessa situação e com tudo mudando - casa, cabeça, cidade, emprego – ela sorria todos os dias e me contava dos seus planos para trabalhar na ilha de páscoa. Ela me levou até Santiago, me apresentou a cidade e me levou no melhor ponto pra eu seguir pra Mendoza de carona.


Estas mulheres acima são exemplos em muitas coisas. Aprendi muito com elas, sobretudo sobre independência e confiança em si mesmo. Fico triste por ver tantos casais que prendem tanto a vida do outro que fazem com que o relacionamento seja um tipo de compromisso rígido a ponto de a individualidade ser malvista ao invés de necessária. Imagino a real confiança desses homens que ficavam três meses sem suas mulheres quando estas estavam saindo pra curtir a vida em um momento em que eles não podiam, mas entendiam que era necessário a elas e mais que tudo, deixavam elas livres porque realmente confiavam nelas.

Fui com uma suíça a Viña del Mar e fiquei curioso por saber como funciona o seu país. Parecem em muitos pontos extremamente avançados como por exemplo na esfera de poder, que não é centralizado em alguém como um presidente e sim em um conselho com diferentes visões de direita e esquerda. Posso ser um comunista xarope, mas este tipo de governo me parece mesmo interessante quando se trata de medidas de vários lados. Eu teria que estudar mais sobre a Suíça pra dar alguma opinião mais concreta, mas até então me parece fantástico.


Depois de um mês curtindo o Chile, em Valpo e Viña, chegou a hora de rumar para Santiago curtir um último fds e aí seguir viagem. Depois de trocar umas informações com uns mochileiros decidi cruzar a fronte de carona. Essa parte merece atenção especial e vou deixar para o próximo capítulo da minha incrível viagem de carona cruzando a fronteira Chile-Argentina a pé ;)

3 comentários:

  1. cara, que bacana! Não sei se você vai lembrar de mim, mas há um tempão atrás (mais de 5 meses) eu comentei aqui, me chamo Flávio. Você tinha acabado de iniciar tua viagem, e falava algumas coisas de Buenos Aires (se não me enagno foi o primeiro ou segundo post). Eu fiz algumas perguntas porque estava para começar a minha. E a fiz. Com uma amiga, Começamos pela Colombia e fomos descendo. Lendo o post de hoje, curti demais, por que fizemos a mesma coisa só que inverso. Descemos por Salta, até Mendoza, lá ficamos uns dias, e seguimos (de carona também!) para Santiago e depois Valpo! A viagem toda foi incrível, porém, eu possuía menos tempo, porque tinha realmente que voltar (obrigações socias: um casamento pra ir em que eu era o padrinho). Isso não nos permitia trablhar em hostels por exemplo, mas como na Colombia tivemos mais tempo, pudemos fazer isso lá e foi muito bacana! A parte de se sentir um cidadão, foi exatamente o que eu sentia... Agora é bem estranho voltar e buscar um trabalho e um rumo. Sempre foi difícil pra mim na verdade, e quando fala sobre ser um ermitão, acho que sou um pouco também, aliás, muito, mas tenho dificuldade de aceitar isso. É bacana não só ver as viagens que você tem feito mas quando você descreve como você pensa. Relaciono-me com teu modo de pensar em alguns pontos e em outros não, mas adoraria mesmo fumar um cigarrinho de artista contigo e trocar uma idéia! Se em algum momento de tua viagem, quando estiveres mais em cima (Colombia ou Venezuela ou Peru) e fores passar por Manaus, me avisa! Não estou por lá, mas é de lá que eu sou. Deixo aqui meu facebook, mas por favor, não se sinta coagido à me adicionar, não ligo mesmo pra isso, mas é que pode facilitar o contato. https://www.facebook.com/flaviocardosu
    Um grande abraço, boa viagem, aproveite! Vais ver muita coisa bonita e conhecer cada vez mais gente bacana! Tudo de bom e muita energia boa irmão!

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    1. E só pra acrescentar, sinto muito pelo couchsurfing em Valpo. Nós conhecemos dois cara supeeeer bacanas que nos receberam muito bem! O que rendeu até um dia a mais por lá. E para nós foi o inverso: ficamos mais tempo em Mendoza e em Córdoba só 3 dias, não pudemos explorar muita a região.

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  2. Eae Ermitão, firmeza?

    Bom, li todos os relatos até então postados por voce e me senti na obrigação de comentar esse, na minha opnião o melhor de todos desde a reflexão sobre ermitão até o sentimento de viver sufocado na sociedade contemporânea.

    Tenho muita vontade de fazer uma trip igual a tua mas por falta de recursos não comecei, porém dei o primeiro passo, larguei o meu emprego na semana e estou planejando uma viagem para o litoral baiano, para conhecer o mar, embora nunca tenha entrado na água salgada tenho uma paixão imensurável por ela, acredito na semana que vem já esta por lá, realizando esse sonho.

    Agradeço por esse post maravilhoso, me fez refletir bastante sobre a vida, sobre a morte, sobre o que é viver. Desde que comecei planejar a viagem não tenho mais a sensação de enforcamento, apenas sinto que estou vivendo.

    Abração, buena onda.

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